The Damned
Por Peter Pedro
Se você já visitou a Islândia, sabe que é um lugar de beleza cênica impressionante e extremos notáveis. Também é, sem dúvida, incrivelmente frio. Talvez não o tempo todo, e talvez não da mesma forma que era quando minha esposa e eu estivemos lá de férias há 12 anos (obrigado, mudanças climáticas), mas ainda assim. Claro, cada um se acostuma ao ambiente onde foi criado. E é aqui que entra o crédito ao roteirista e diretor Thordur Palsson, nascido e criado na Islândia, por conseguir tornar seu país natal estranho e assustador na medida necessária para os recém-chegados que povoam sua narrativa em “The Damned”, uma intrigante obra de terror ambientada no século XIX.
O Cenário Gélido que Conquista e Amedronta
No início do filme, uma narradora feminina descreve a Islândia como “um lugar de oportunidades … se você pudesse suportar o frio … as longas noites … a fome.” A câmera do diretor de fotografia Eli Arenson captura o céu azul sobre camadas de gelo branco brilhante nas cenas iniciais, transmitindo exatamente essas sensações de resistência. Desde o primeiro momento, o filme se apresenta como uma daquelas histórias assustadoras contadas ao lado de uma fogueira—uma fogueira que, neste caso, é vital para evitar o aterrorizante frio que preenche o ambiente.
A protagonista, Eva, interpretada por Odessa Young, administra uma estação de pesca que antes pertencia ao seu falecido marido, Magnus. Embora esse papel não seja tradicionalmente destinado a uma mulher, a comunidade enfrenta desafios maiores, como a escassez de alimentos. Por isso, a visão de um naufrágio à distância, nas costas desoladas da região, gera um sentimento incomum: ressentimento. “O que estavam fazendo tão ao norte?” alguém questiona em voz alta. “Mal conseguimos alimentar a nós mesmos,” reclama outro membro da comunidade. E, assim, nenhuma equipe de resgate é formada. Nenhuma ajuda é enviada.
Eva, em termos práticos, aceita essa decisão. Mas isso literalmente volta para assombrá-la.
Um Terror Insidioso e Diferente
Em um filme de terror mais convencional, as almas dos habitantes abandonados do navio vagariam pela terra em busca de vingança contra a comunidade. Mas “The Damned” escolhe um caminho muito mais perturbador e psicológico. A comunidade começa a enfrentar acidentes incompreensíveis, uma abundância inesperada de recursos e os próprios habitantes da estação de pesca inexplicavelmente se voltando uns contra os outros. A loucura se espalha como uma praga, impregnando cada canto da história.
Um pescador corpulento perde a cabeça e confronta Eva e outros moradores: “Você acha que está segura?” Essa tensão crescente é acentuada pela trilha sonora de Stephen McKeon, com seus tons de cordas agudas que remetem à música de Penderecki, utilizada por Kubrick de forma icônica em “O Iluminado”.
Performances Intensas e um Final de Arrepiar
O elenco inteiro, incluindo o britânico Joe Cole (de “Peaky Blinders”), se mantém firme durante os eventos angustiantes, entregando performances que combinam perfeitamente com o tom sombrio e inquietante do filme. O clímax, envolvendo o fogo que Eva foi informada ser necessário para quebrar a maldição dos mortos, culmina em uma reviravolta genuinamente surpreendente, que deixa o público boquiaberto.
Se existe uma maldição que precisa ser quebrada no cinema, é a de que os primeiros filmes lançados no ano costumam ser os piores. Mas não é o caso de “The Damned”. Este é um filme que vale a pena, uma verdadeira joia do terror que vai transformar qualquer noite em uma celebração de arrepiar.